Depoimento ao STF revela que alertas foram enviados com antecedência ao Sistema Brasileiro de Inteligência
Em depoimento prestado nesta terça-feira (27) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, afirmou que o governo federal foi alertado com antecedência sobre os riscos de invasão a prédios públicos em Brasília, incluindo o Congresso Nacional, antes dos atos de 8 de janeiro de 2023.
Segundo Cunha, a Abin emitiu uma série de alertas ao longo da primeira semana de janeiro. O mais contundente foi enviado no dia 6, às 19h40, ao Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), composto por órgãos como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), os centros de inteligência das Forças Armadas, o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça.
O conteúdo do alerta destacava a convocação de caravanas de manifestantes com acesso a armas e intenção declarada de invadir o Congresso e outros edifícios da Esplanada dos Ministérios. “Esse alerta foi emitido para o Sistema Brasileiro de Inteligência”, afirmou Cunha.
O depoimento foi colhido no processo que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Saulo Cunha foi ouvido como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, um dos principais investigados.
De acordo com o ex-diretor, o primeiro alerta foi enviado no dia 2 de janeiro, e a agência seguiu monitorando a movimentação de grupos extremistas durante toda a semana. Ele também relatou que a Abin só teve maior dimensão da mobilização na véspera dos atos, ao identificar a chegada de ônibus com manifestantes à capital federal.
Além disso, Cunha afirmou que a Abin não foi informada por autoridades federais ou distritais sobre os acampamentos em frente ao Quartel-General do Exército, mas ainda assim produziu e encaminhou relatórios ao governo de transição. “No governo de transição, encaminhamos relatórios sobre as manifestações extremistas não só em Brasília, mas também em outros acampamentos de grande porte, como no Rio de Janeiro”, disse.
Segundo ele, a Abin só tomou conhecimento da movimentação dos manifestantes rumo à Esplanada dos Ministérios na manhã do próprio dia 8 de janeiro, por volta das 9h.
Audiências continuam no STF
O depoimento de Saulo Moura da Cunha ocorreu durante a segunda semana de audiências conduzidas pela Primeira Turma do STF no âmbito do processo que apura a tentativa de subversão da ordem democrática.
Mais de 30 testemunhas já foram ouvidas, e nesta terça-feira, a Corte continua escutando pessoas indicadas pela defesa de Anderson Torres. Estão previstos depoimentos de delegados da Polícia Federal, ex-ministros e ex-integrantes da Abin.
As investigações buscam esclarecer os níveis de conhecimento e as ações — ou omissões — das autoridades diante da escalada de tensão que culminou na invasão violenta das sedes dos Três Poderes em Brasília.